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Timor debaixo de água!

Dia 3 de abril de 2021, um dia normal de sábado como qualquer outro, contudo um dia tão fatídico para alguns timorenses que jamais imaginavam que este seria o seu último dia de vida!

No dia a seguir, 4 de abril, pouco depois de meia noite, começou a chover torrencialmente e, aproximadamente, 4 horas mais tarde, Díli, a capital, estava debaixo de água e, dias depois, foi definida como um “mar de lama”…

Este dia, seguramente, irá entrar na história deste povo, como uma recordação nefasta, devido a uma das piores inundações dos últimos 50 anos…

Perderam-se vidas, contaram-se pelo menos onze mortes, na altura, e 7000 mil desalojados. Milhares de casas e ambientes foram destruídos, pela implacável força das águas, em sua maioria na capital do país, Díli. Ficaram destruídos, também, os armazéns que iam receber os primeiros lotes de vacinas anti-Covid. Ainda mais, foram inutilizados diversos medicamentos e as câmaras frigoríficas sanitárias deixaram de funcionar.

Díli encontra-se em situação de “calamidade”, centros de vacinação e tratamento da Covid foram destruídos. Entre muitas outras infraestruturas danificadas estão, também, duas edificações para isolar afetos de Covid-19 e o Hospital Nacional “Guido Valadares”, o que faz temer por possíveis contragolpes na luta contra a pandemia.

A elevada precipitação fez com que várias ribeiras transbordassem, ao ponto de deixar certas zonas da cidade completamente inundadas, com a água a atingir os dois metros de altura. Certas estradas ficaram, quase, intransitáveis devido ao desabamento da terra e da destruição do alcatrão…

Dias depois, após análise detalhada dos impactos das inundações de 4 de abril, originadas pelo Ciclone tropical Seroja, foi noticiado que provocaram a morte de 42 pessoas: 22 em Díli, 10 em Ainaro, 5 em Manatuto, 3 em Viqueque e 2 em Aileu e deixaram cerca de dez mil pessoas desalojadas, em Díli, que foram recebidas em 22 centros de acolhimento, espalhados pela cidade.

Durante essa noite acordámos, várias vezes, com o barulho das trombas de água que caíam nas chapas do telhado da nossa casa. Por volta das 6:30 h iniciámos o nosso dia, muito preocupados, por um lado, com a chuva que continuava a cair torrencialmente, e por outro lado para sabermos as consequências da mesma, tendo em conta as inundações ocorridas em Díli há alguns meses atrás. Devido a uma deficiência do Sistema de Saneamento e Drenagem, por conseguinte, mais de 50% da cidade ficou inundada e durante uma semana várias equipas tiveram que remover uma grande camada de lama das casas, das escolas, das instituições, dos canais de esgotos e das estradas…

Por volta das 14 h a chuva continuava a cair com a mesma intensidade. O céu parecia de chumbo e até comentei com a minha esposa, bastante preocupado, que nunca tinha visto na minha vida, tanta chuva a cair ininterruptamente, por mais de 15 horas! Foi algo que me impressionou bastante… até me meteu um certo medo e devo confessar que não sou das pessoas mais sensíveis…

Uma hora mais tarde, a chuva abrandou um pouco, contudo sem parar, de maneira que me permitiu sair para poder avaliar a situação em que se encontrava o nosso terreno e uma pequena aldeia, situada junto a uma grande ribeira que corre precisamente ao lado de ambos.

Antes de chegar à ribeira grande, temos uma outra que, embora mais pequena, causou um buraco enorme que destruiu parte da estrada de acesso que, praticamente, deixou de existir numa extensão de aproximadamente 50 metros.

Ao chegar ao local, encontrei-me com alguns moradores desta pequena comunidade, que vivem numas casas bem perto da ribeira, especialmente uma delas, devido à força das águas que cavou na parede lateral, encontra-se, agora, apenas a uns 50 centímetros…

Foi uma das poucas vezes, ao longo da minha vida, onde realizei que a habitual saudação “bom dia” não tinha  sentido algum neste contexto… ao aproximar-me deles inclinei a cabeça e perguntei-lhes como estava a situação e  pude observar, estampados no seu rosto, uma grande preocupação e medo!

Precisamente ao lado desta casa estava um poste, que pertencia à nossa linha elétrica. Foi levado pela terrível correnteza das águas, mas felizmente, dois dias depois, encontrei-o na outra margem da ribeira, preso aos fios elétricos e fiquei muito contente!

Graças a Deus,  o nosso terreno não ficou inundado. Apenas ao lado da ribeira pequena as águas cavaram junto à parede de proteção que fizemos e expuseram parte da fundação do mesmo… é óbvio que a ribeira estava tão grande que trouxe uma grande quantidade de areia, pedras e árvores, algumas bem grandes que deveremos limpar, mas felizmente nada de grave aconteceu. Tínhamos plantado duas dúzias de bambus e outros arbustos, com o objetivo de segurar a margem da nossa estrada de acesso, mas infelizmente desapareceram, inclusive a própria estrada, deixando para trás um misto de areia, lama, pedras, arbustos e árvores!

Os responsáveis do Governo Timorense e de várias estruturas de emergência estão a trabalhar para analisar os danos causados pelas cheias, que arrastaram casas, destruíram estradas e várias outras estruturas.

Entre as prioridades definidas, pelos mesmos, está o apoio à evacuação das zonas mais afetadas e o realojamento de centenas de famílias afetadas pelas inundações, em vários pontos do pais, como também a ajuda humanitária a todas as vítimas e as operações de limpeza e recuperação das infraestruturas danificadas.

Quanto a nós, estamos empenhados em apresentar às agências internacionais, que se encontram em solo timorense, um projeto de consolidação das margens da ribeira que consta na construção de uma parede em pedra (gabião) com 800 metros lineares, para proteger as 12 casas desta pequena pobre comunidade, bem como as nossas futuras instalações.

Após uma análise atenta, observámos que durante o período das chuvas, devido à grande quantidade de água que as montanhas e as íngremes colinas despejam, a forte correnteza das águas traz, junto com a areia, árvores e grandes quantidades de pedras, algumas bem grandes, de maneira que o rio, após cada enxurrada, sempre aumenta o nível do seu leito.

Para solucionar este problema, além desse gabião, precisamos de uma retroescavadora para limpar e baixar, periodicamente, o leito do rio para que possamos controlar, sempre, o nível do mesmo, evitando que aumente e transborde.

Enviei vários pedidos às grandes construtoras de retroescavadoras como JCB, Terex, New Holland, Komatsu, John Deere, Caterpillar, Case, etc., para nos ajudarem, oferecendo-nos mesmo uma usada, mas infelizmente, até ao momento, não recebemos nenhuma resposta. Estamos confiantes que se, futuramente, recebermos algum apoio financeiro, iremos comprar uma em bom estado, para solucionar este problema, que não é só nosso, mas também da pequena comunidade acima mencionada.

Nos últimos 2 anos, pedi ajuda, várias vezes, às autoridades locais, bem como ao Ministério das Obras Públicas para solucionarem este problema, mas infelizmente dizem-me sempre a mesma coisa; Não temos fundos! Então essas pobres almas são simplesmente deixadas à mercê do: ” Deus dará”…

Queremos estender, encarecidamente, o nosso apelo a todos os que nos poderão ajudar a fazer possível a construção desta parede de proteção e na compra da tão necessária retroescavadora. Desde já, estamos muito gratos!!!

Apresentamos, de seguida, os gastos aproximativos deste gabião e da retroescavadora:

– Gabião de arame zincado 4800 mᶟ – 48500 usd;

– Pedra – 28000 usd;

– Mão de obra – 15000 usd;

– Retroescavadora – 35000 usd;

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