Radu, o primeiro voluntário!

Faz algum tempo, há quase três anos, recebemos a visita do Radu, um jovem romeno que ao ouvir falar do nosso projeto, através do Luke e da Andrada, propôs-se visitar-nos e ajudar naquilo que fosse preciso. Realmente, foi o primeiro voluntário do nosso projeto!

A sua vinda foi planeada para coincidir com uma das visitas do Luke e da Andrada. Depois de chegar, dois dias mais tarde, eles regressaram para a Austrália. O Radu é o tipo de pessoa que, assim que nos foi apresentado, parecia que nos conhecíamos há muito tempo…

Conquistou-nos, de imediato, através da sua postura muito meiga, afável, amigável e prestável!

Passou connosco algum tempo, pouco mais de um mês, mas a sua estadia foi muito útil e proporcionou-nos, ainda, muito bons momentos com troca de impressões, partilha de experiências, cimentando a nossa amizade!

Num dos artigos anteriores, salientámos que o Radu nos ajudou a reparar e a pintar uma casa que tinhamos alugado em Liquiçá, pois a Céllie, a minha charmosa esposa, tinha sido transferida da Escola de Maliana para a de Liquiçá para exercer as suas funções letivas.

No ano de 2017, enquanto estava na capital, em Díli, para tratar de resolver alguns assuntos, conheci o Juliano, um jovem timorense natural da aldeia de Taiboco, distrito de Oecusse. Depois de trocarmos algumas palavras em português, fiquei bastante surpreendido, pois falava relativamente bem e compreendi logo o porquê! Tinha vivido quase quatro anos em Portugal, estudando num seminário católico.

Era casado, tinha dois filhos e trabalhava numa loja que vendia diversos materiais para a construção civil. Fiquei impressionado ao saber o ordenado que ele ganhava: somente 115 dólares, por mês!!!

Falei-lhe sobre o nosso futuro projeto, que ainda estava numa fase embrionária, quis saber se gostaria de aprender a trabalhar com abelhas e fazer parte da nossa equipa de trabalho. Logo se demostrou muito interessado.

Durante quase um ano tivemos a oportunidade de nos conhecermos melhor e estabelecermos uma certa amizade, pois, passado este período de tempo, ele teve que voltar a viver com os seus pais na aldeia de Taiboco, situada numa das montanhas de Oecusse, devido a um problema que tinha acontecido com o seu pai e que me deixou estupefacto; por causa de uma discussão que  teve com um vizinho por causa de uma cerca que delineava a fronteira entre os terrenos dos ambos. Certo dia, estava agachado a trabalhar no seu quintal quando veio por trás o seu vizinho que começou a dar-lhe com uma catana nos ombros, na cabeça, nas mãos e por onde calhava, de maneira que o deixou numa poça de sangue e só pela misericórdia divina os médicos conseguiram salvar-lhe um dos braços e até a própria vida…

Como sabia que a condição da família do Juliano era muito precária, falei com a minha esposa para arranjarmos uma maneira de os poder ajudar a ganhar o seu pão de cada dia, pois nem o Juliano, nem nenhum outro membro da sua família  tinham possibilidade de trabalhar, pois nessa aldeia, pequena e remota da montanha, não havia nada para fazer a não ser cultivar a terra que, praticamente, era o único meio de subsistência que  tinham…

Pensámos que o ideal seria comprar-lhes um forno elétrico e uma máquina para ralar a noz de coco e ensinar-lhes a fazer pão e uns bolinhos de coco, que tanto davam para vender como para o próprio consumo.

Logo depois de acabarmos as obras da restauração da nossa nova casinha, propus ao Radu para fazermos uma visita ao Juliano e colocarmos em prática o nosso plano. Ele ficou muito entusiasmado com a ideia!

Liguei para o Juliano para saber se a nossa visita era oportuna e, depois de receber a sua confirmação, comprámos o forno elétrico, a máquina para ralar, um saco de farinha, alguns quilogramas de açúcar, batata, batata doce, amendoins, óleo alimentar e outras coisas mais que sabíamos que lhes fariam falta e depois de acondicionarmos bem toda a mercadoria, no nosso carro, na manhã seguinte, muito animados, pusemo-nos a caminho.

Depois de sair de Timor Leste, pela fronteira de Mota Inn, com a Indonésia, cruzámos uma cidade e umas aldeias e duas horas e meias mais tarde estávamos, novamente, na fronteira de Winnie, com Oecusse, pois este único distrito que pertence a Timor Leste é um enclave, assim como se pode observar no mapa.

Depois de passarmos a fronteira tivemos direito a um almoço real e com dupla vista privilegiada: para as belas montanhas de Oecusse, bem como para o fantástico mar azulado!

Depois de recarregadas as nossas baterias prosseguimos caminho e depois de cruzarmos a cidade do Oecusse, deixando-a para trás, começámos a subir a estrada que, empoeirada e cheia de buracos, pois em certos sítios eram autênticas crateras, levou-nos até à aldeia de Taiboco, na casa do Juliano.

Como era a altura da estação chuvosa a nossa caminhada, por vezes, tornou-se uma autêntica aventura, pois como tinha chovido, algum tempo antes, com a passagem dos camiões o lamaçal da estrada estava tão fundo que nos dava a sensação que somente outros camiões poderiam passar por lá…

Nestes segmentos do caminho, o Radu teve que sair do carro, umas poucas vezes, para sondar e indicar-me o melhor sítio para passar e depois de muitas atascadelas e empurrões conseguimos chegar bem ao nosso destino, após 9 horas de viagem…

Sempre que passávamos por algum grupo de casas, mais isoladas, que estavam quase que “semeadas” ao longo do nosso percurso, as crianças corriam, deslumbradas, ao nosso encontro e cumprimentavam-nos com muito alarido e alegria, acompanhando-nos por algum tempo, coisa que nos impressionou muito!!!

Ao chegarmos a casa do Juliano, apesar de muito cansados, sentimo-nos muito reconfortados com a receção que tivemos, pois embora muito pobres e com uma vivência muito simples nos puseram muito à-vontade de maneira que nos sentimos logo fazendo parte integrante da família!!!

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