Liquiçá – uma nova etapa na nossa jornada em Timor
Ao fim de dois anos, a lecionar em Maliana, a minha esposa recebeu uma resposta afirmativa ao seu pedido de mobilidade e foi destacada para Liquiçá, uma cidade a 35 km da capital, onde ficámos durante dois anos.
Foi uma experiência bem diferente conduzir o carro cerca de 45 minutos até Díli, a capital, comparativamente às 4 horas que fazia quando saía de Maliana.
Liquiçá é uma cidade à beira mar, com muito movimento, pois é um ponto de passagem para outros municípios.
As pessoas vivem, basicamente, da pesca e do comércio.
Alugámos uma casa, que foi reparada por mim e pelo Radu, um jovem romeno que teve o desejo de vir ajudar-nos e esteve connosco cerca de um mês (falarei sobre ele num dos próximos artigos).
Continuei a tão incessante busca pelo terreno almejado, que deveria ser num local propício à instalação das abelhas e da exploração apícola. Encontrei dezenas de terrenos que, embora estivessem situados nas áreas que nos interessava, eram pequenos demais para satisfazerem as nossas necessidades. O primeiro terreno que encontrei, com cerca de 2 hectares, conseguimos negociar um bom preço e depois pagámos a uma equipa de cadastro para fazer a medição final do terreno e o respetivo mapa, pois estávamos a juntar os últimos documentos para efetuarmos o contrato de compra e venda, afinal tivemos uma reunião final com o chefe da aldeia e com todos os habitantes daquela comunidade com o propósito de explicar-lhes melhor em que constava o nosso projeto. Quando falámos pela primeira vez com o proprietário deste terreno, convidámos o chefe de aldeia para estar presente na apresentação que fiz e eles ficaram muito entusiasmados e contentes com a possibilidade de receber a formação gratuita nas diversas áreas do nosso projeto: agricultura e apicultura orgânicas, saúde, TIC, contabilidade, alvenaria, carpintaria, canalização, eletricidade, entre outras.
O chefe da aldeia comprometeu-se a divulgar o nosso projeto à comunidade e assegurou-nos todo o seu apoio e colaboração em tudo que fosse necessário. Contudo, no dia em que apresentei, em detalhe, as fases do nosso projeto e a dimensão do mesmo com a finalidade de ensinarmos aqueles que estivessem interessados em aprender estes ofícios, toda aquela comunidade, cerca de 60 homens, queria trabalhar para nós e ganhar dinheiro e não se mostraram nada interessados em receber formação, pois diziam que estavam fartos de serem explorados durante tantos anos pelos portugueses e indonésios e que agora que tinham a liberdade queriam ser os donos daquelas terras, usufruindo delas segundo a sua vontade.
Tentei explicar-lhes a importância de receber a tão necessária formação nestas áreas para que, depois de adquirirem os devidos ensinamentos, pudessem tornar-se os donos do seu trabalho e tirar o máximo proveito do mesmo, atingindo o seu ideal.
Infelizmente, todos os meus esforços foram em vão, eles não quiseram compreender insistindo que queriam apenas trabalho. Expliquei, várias vezes, que o nosso projeto não tinha a capacidade de dar trabalho a tantas pessoas, mas sim que visava a formação de jovens que quisessem dominar estes ofícios, especialmente trabalhar com as abelhas nas caixas. Segundo o acordo que tinhamos chegado com o Ministério da Agricultura e com CEFOPE (Centro de formação professional) era que depois de acabado o curso de formação, os jovens que quisessem criar associações para investir nesta área, poderiam receber os subsídios necessários para o desenvolvimento de projetos, recebendo sempre, gratuitamente, a nossa assistência técnica (tanto no processo de cada fase do trabalho apícola, bem como na construção do material apícola necessário).
Mesmo depois de saberem que o próprio Estado Timorense estava interessado em apoiar o desenvolvimento deste tipo de atividades, a resposta final deles foi a mesma: arranjar trabalho para todos, ou não permitiriam a realização deste projeto.
Sendo assim, desiludidos encerrámos mais um capítulo da nossa aventura em busca do tão almejado terreno e reorientámo-nos para uma nova procura, numa outra zona.