Finalmente: mãos a obra!
Após a compra do terreno pensámos que a primeira prioridade seria ter a tão necessária água para as nossas necessidades diárias, bem como para a irrigação da nossa horta e das árvores do fruto. Estamos preocupados, também, em assegurar o fornecimento de água potável à população local da aldeia de Hlalameta, evitando a sua deslocação a zonas mais distantes, onde há fontes naturais de água. Estas, na maioria das vezes, não têm o mínimo de condições básicas e a água continua a ser um dos grandes problemas nesta ilha, especialmente durante a época seca, sendo que muitas localidades do país não têm ainda acesso à água canalizada e ao saneamento básico.
Depois de contactar com algumas empresas especializadas no domínio, encontrei uma equipa de jovens timorenses que me convenceu a trabalhar com eles, devido ao preço “mais em conta” que nos fez. No dia em que chegaram para começarem o trabalho quis saber qual era o sítio mais indicado para se fazer o furo e o chefe, da equipa, disse-me que tinha um método para verificar onde havia mais água, que nunca tinha falhado até à data e de facto foi bem verdade!
Fiquei mesmo impressionado com o equipamento tão “sofisticado e moderno” que o nosso homenzinho utilizou!
Prestem atenção à sequência, por favor!!!
Empolgado e, ao mesmo tempo, intrigado com a precisão deste “aparelho” pedi logo para me deixar experimentar, para verificar se comigo funcionava tão bem… e adivinhem! Funcionou, uma maravilha! Apesar de ter seguido rigorosamente todas as instruções dadas (devia andar muito devagar e quase sem respirar, concentrando-me nas pontas das varas), os ponteiros da engenhoca nem sequer se mexeram um milímetro!!!
Pedi ao “mestre”, que na linguagem desta especialidade se chama vedor, para repetir o teste em outros locais e fiquei maravilhado com cada cruzamento das varas que indicavam um novo sítio potencial, onde se poderia encontrar a água. Tentei de novo, algumas poucas vezes, para verificar se de facto a “invenção” tinha mudado de ideias, mas infelizmente os ponteiros continuavam teimosamente inertes…
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que essa façanha estava, talvez, relacionada com alguma bruxaria, mas algum tempo depois perguntei ao Dr. Google e compreendi que o assunto é bem mais complexo e enigmático, estando relacionado, segundo Einstein, com o electromagnetismo e, ainda conforme outros pouquíssimos entendidos na matéria, tem a ver com o biomagnetismo e a eletricidade estática.
Seja como for, sempre que terei a oportunidade, observarei com grande interesse, novamente, esta “engenhoca” a trabalhar!
Acompanhei de perto os trabalhos e estava um pouco ansioso para presenciar o primeiro sinal da aparição da água que se deixou um pouco a mais esperada, pois somente depois dos primeiros dois dias de trabalho finalmente apareceu. Contudo, continuaram a furar mais uns dias para se encontrar um lençol freático mais rico e ao final de uma semana de trabalho finalizaram os trabalhos. O nosso furo realmente tem um bom caudal de água, pois tem uma profundidade de 40 metros, com cerca de 34 metros de água.
No futuro próximo queremos fazer um tanque em betão armado, para o depósito de água, que irá auxiliar muitas pessoas da comunidade de Hlalameta.
Depois de muitas insistências e alguns obstáculos colocámos uma linha de energia elétrica, dando a possibilidade a algumas dezenas de famílias usufruírem da mesma, pois ainda há muitas aldeias nas zonas mais remotas que não têm oportunidade de usufruir deste pequeno luxo.
Ontem demos o nosso contributo para arranjar mais um bom pedaço do caminho de acesso com a ajuda de alguns elementos da comunidade, que responderam prontamente ao nosso chamado, e se empenharam com muito entusiasmo, desde os mais pequenos até aos mais graúdos…
Fico tão grato a Deus que, com cada novo dia que desponta, nos dá a oportunidade de fazer acontecer algo de bom e experimentar aquilo que Leo Tolstoy compreendeu tão bem acerca da essência do viver: “A vida verdadeira é vivida quando pequenas mudanças acontecem.”