Maliana
Depois de algumas semanas, passado o período da acomodação, constatei que em Timor haviam muitas árvores e plantas silvestres que, no período da floração, dão muito néctar e pólen. Informei-me se naquela zona existiam apicultores e fiquei muito surpreso ao saber que a apicultura, nesta ilha, resume-se apenas em apanhar alguns favos que as abelhas fazem nas árvores altaneiras, que depois de esmagados, nas mãos, obtem-se o mel que muitas vezes fermenta, devido à falta de condições básicas de higiene na extração do mesmo…
Tive a oportunidade de falar com um timorense que, habitualmente, trepava às árvores para apanhar os favos com mel e até me contou que, numa certa altura, caiu de uma árvore e partiu a clavícula, um braço e uma perna. Pensei que embora o mel fosse tão doce e apetitoso, o preço a pagar para saboreá-lo era bem alto!
Como percebo um pouco de apicultura, constatei que era um grande desperdício toda aquela riqueza floral, que quase ninguém aproveitava, e pensei imediatamente fazer um projeto que possibilitasse a devida formação dos jovens timorenses para fazer uma apicultura nas colmeias, com mais segurança e higiene e para que desta forma pudesse garantir o seu constante sustento diário.
Observei, também, que o solo era muito fértil, contudo muito pouco explorado, pois os timorenses aproveitam fazer alguma horticultura, apenas na estação chuvosa, dado o facto que Timor-Leste tem apenas duas estações por ano: uma chuvosa e outra seca.
Com alguns conhecimentos que possuo em agricultura e com a ajuda de alguns colaboradores, pensei, também, esboçar um projeto que possibilitasse a formação deste povo para aprender como poderia tirar o melhor aproveitamento da terra, ao longo de todo o ano, e fazer uma agricultura baseada no uso de pesticidas e adubos orgânicos e com irrigação gota-a-gota, sendo utilizada especialmente no tempo da estação seca.
Uma outra necessidade, que constatei, foi a falta das condições da higiene básica na maioria das casas timorenses, bem como a falta de uma alimentação balanceada, pois o prato base é simplesmente o arroz branco ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar quando se tem, pois certas famílias mais pobres mal conseguem arranjar o mesmo para uma ou duas refeições por dia…
Dado a minha formação em nutrição e medicina naturista pensei apresentar ao Ministério de Saúde um projeto que visava uma campanha de sensibilização através de palestras públicas de saúde, acompanhadas de aulas teóricas/práticas de uma alimentação variada que envolvia a utilização harmoniosa de todos os nutrientes necessários para a manutenção correta do organismo.
Assim sendo, apresentei os projetos de apicultura e agricultura no Ministério da Agricultura e o projeto de saúde no Ministério de Saúde, em Díli, e durante os dois anos seguintes seguiram-se, sem exagero, dezenas de reuniões com vários representantes dos dois ministérios, entre os quais o próprio ministro da agricultura, chefes de gabinetes, acessores, diretores, etc…
Eu fazia, quase semanalmente, o percurso Díli-Maliana/Maliana-Díli, pois ficava durante a semana na capital e estava com a minha esposa só aos fins-de-semana. Chegava a casa na sexta-feira, à tarde, e saía no domingo. Quando partia, a Célia ficava sempre com lágrimas a rolar pelo rosto. Esta experiência durou cerca de 2 anos!
Agradeço a Deus que durante este período nunca tive nenhum acidente, o carro nunca avariou e, passadas algumas semanas, sabia de cor todas as músicas que tinha num único CD…