Sonhos… a transformarem-se em realidade!

Certo dia, estava um pouco desanimado por algo ter corrido mal no nosso trabalho, nem sequer me lembro mais do que se tratava…o mais importante, que nunca esquecerei, foi a surpresa que a minha esposa me fez no final do dia: ao entrar no nosso quarto encontrei este “recadinho” tão especial que me deu LITERALMENTE asas…

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Ela nunca soube, até à data, o quanto isto significou para mim! Creio que chegou o momento certo para ela saber; ao ler este artigo!

Eu também nunca cheguei a saber se ela fez isto motivada pelo meu desânimo, pois nessa altura, nem eu, nem ela dissemos nada…apenas os nossos olhos falaram, pois temíamos estragar a magia do momento!

Com a Andrada e o Luke fizemos muitos planos!!!!!

Pretendemos implementar uma rádio local, pois estamos conscientes que será uma ferramenta muito importante, tanto para  a disseminação do nosso projeto, bem como para sensibilizar e transmitir informações no âmbito da saúde, higiene, alimentação e educação… Já temos o equipamento que foi oferecido, gentilmente, por alguns amigos da Austrália, ocasião com a qual aproveitamos transmitir-lhes o nosso: muito obrigado!

Numa primeira fase, queremos desenvolver um projeto de apicultura e agricultura orgânicas, para ensinarmos os jovens timorenses a trabalharem com as abelhas em colmeias, porque aqui não existe este sistema de trabalho, somente há a chamada apicultura tradicional. No que consiste?!?

Os apicultores timorenses trepam às árvores e sacam os favos naturais que as abelhas selvagens produzem e imagine que tipo de mel irão obter, depois de esmagarem os favos na mão, juntamente com as larvas da criação que seriam as futuras abelhas…

Pretendemos sensibilizá-los para a necessidade, tão grande, da preservação das mesmas, sendo elas as mais importantes polinizadoras que asseguram o equilíbrio do ecossistema do nosso planeta, bem como, para a nossa alimentação como importante fonte de nutrientes fundamentais para a manutenção tão necessária da nossa saúde.

A nossa primeira colmeia!

Em Timor Leste, existem algumas espécies de abelhas selvagens. Destaco apenas duas: Apis Dorsata, a abelha gigante, e Apis Cerana que é a mais parecida com a Apis Melífera (que se encontra na Europa e na Africa), contudo um pouco mais pequena. Depois de várias tentativas falhadas de as aliciar a entrarem numa caixa, vimo-nos obrigados a render-nos às evidências e desistimos, pois constatámos que não havia maneira de as “convencer” a abandonarem o seu habitat natural: as árvores, em troca de uma honorável casinha…

Assim sendo, partimos para a alternativa que nos restou, importar algumas colónias da Austrália e já obtivemos uma licença de importação. Atualmente, esperamos que se estabeleçam as regras legais entre a quarentena australiana e a quarentena timorense para que possamos recebê-las brevemente… ou, pelo menos é, precisamente, essa a nossa expectativa e desejo!

Desejamos ensinar os jovens timorenses a trabalharem com qualidade e a extraírem o mel em condições de higiene e segurança alimentar, evitando assim o perigo da fermentação do mesmo e o aparecimento de certas doenças.

Queremos trabalhar a terra com o uso de adubos e pesticidas orgânicos que irão assegurar a obtenção de produtos nutritivos e saudáveis. No mesmo âmbito, incentivaremos a maioria dos jovens a adquirir o gosto pelo cultivo da terra, pois infelizmente a grande maioria deles tem a mentalidade que este tipo de trabalho é humilhante. Tive a oportunidade de falar acerca deste aspeto com um amigo timorense que me confirmou que isto era uma realidade e fiquei muito contrariado quando me disse que os homens deixam as unhas crescer só para mostrarem que não trabalham no campo!

Na área da construção, pretendemos formar jovens a adquirirem conhecimentos teóricos/práticos desde a estrutura e fundação de uma casa, passando pelas instalações sanitária e elétrica e finalizando com a construção térmica do telhado.

Numa segunda fase, queremos construir um atelier de tempos livres para que as crianças possam aprender várias atividades práticas (cozinha, agricultura/apicultura, costura, pintura e desenho, fotografia, trabalhos manuais), nomeadamente a tocarem instrumentos musicais. Compreendemos que esta é uma das mais importantes e eficientes maneiras de moldar o caráter das mesmas, impulsionando-as a desenvolverem os seus talentos, com a perspetiva de os ajudar na escolha da sua carreira profissional.

 Numa terceira fase, se Deus permitir, gostávamos de construir um orfanato, pois há um certo número de crianças abandonadas que necessitam do nosso amor e de uma oportunidade para conhecerem o afeto familiar, tendo acesso à mesma oportunidade de formação, como as crianças que tiveram o privilégio de nascer e serem aceites pela sua família.

Nesta fase queremos, também, pôr em funcionamento uma pequena clínica de tratamentos naturais que virá no encontro das necessidades da maioria dos timorenses, especialmente no tratamento das doenças consideradas problemáticas em Timor, bem como: tuberculose, cancro, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças sexualmente transmissíveis, especialmente HIV e sífilis, doenças infeciosas e parasitárias, malnutrição, etc.

Segundo uma pesquisa realizada pela Unicef, no ano de 2007, mais de uma em dez crianças timorenses sofrem de malnutrição, das quais uma em cada duas padece de malnutrição crónica. Dado esta realidade, preparámos um plano de nutrição sistemática que irá ajudar muitas famílias pobres a compreenderem como fazer uma alimentação, o mais balanceada possível, de acordo com as suas possibilidades materiais.

Tive a curiosidade de saber quanta fruta os timorenses costumam comer diariamente e ao perguntar a vários colaboradores timorenses fiquei estupefacto ao ouvir que a maioria nem se lembrava, ao certo, quando tinham comido uma banana ultimamente… segundo a afirmação deles, só comem alguma fruta na época da estação chuvosa! Imaginem! Apenas durante quatro, cinco meses por ano!

Quando partilhei esta triste realidade com a minha esposa ficámos muito sensibilizados e até comentámos que, em muitas famílias do mundo civilizado, muitas vezes as crianças e até os adultos torcem literalmente o nariz quando lhes é posta diante deles uma fruta que não apreciam muito…

Que bom seria que na próxima vez, quando tivermos só uma espécie de fruta na nossa mesa, não reclamarmos pela falta da segunda ou da terceira! Antes, devemos aprender a agradecer a Deus por receber tantas bênçãos da Sua mão, lembrando-nos pois, que algures no mundo, por aí fora, há muitas pessoas que veem as frutas como um artigo de luxo e que muito raramente param nas suas mesas!

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